quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Promessas de fim de ano, educação moral e progresso do espírito.






Como todo final de ano, é hora das promessas para alteração da vida no ano novo. Expectativas de mudança de emprego ou de conseguir um, de casa nova, de relacionamento para os solteiros, de melhoria das relações para os compromissados, parar de beber, parar de fumar, curar-se de doenças, de malhar mais e deixar o corpo em forma, de emagrecer, economizar...
Enfim,  todo ano é a mesma coisa... Uma extensa lista de promessas a serem cumpridas.  As intenções são boas, mas, ao desenrolar dos dias, caem no esquecimento. Os fatores são diversos, desde a preguiça para engendrar a transformação à falta de tempo para promover as mudanças prometidas.
Percebe-se, entretanto, que todas essas mudanças tem ligação com outra mais profunda e esquecida, não só no final do ano como em todos os dias de qualquer ano, a educação moral, que logrará a tão falada reforma íntima que, quando levada a efeito fará com que, não precisemos mais de promessas de fim de ano, pois ela será tão natural, sem dores, praticamente imperceptível.
O amai-vos e instrui-vos é conhecido de todos os que lidam no movimento espírita, porém, bem poucos entendem que o seu real significado está ligado ao entendimento de que para evoluir é necessário estar imbuído de estudos sobre os procedimentos essenciais e ter consciência sobre a necessidade de evolução.
A Doutrina Espírita tem entre as suas atribuições ajudar o homem a realizar a sua transformação moral, mas, essa atitude passa por compreensões maiores do que possamos supor. A primeira delas, é que carregamos certos vícios dos quais podemos não nos orgulhar, mas temos grandes dificuldades em extingui-los por estes já terem percorrido uma boa parte da vida alimentando nosso ego com mil e uma justificativas para mantê-los.
Sendo um dos temas mais debatidos no meio espírita, a reforma moral é também das mais complexas a ser colocada em exercício efetivo na vida até mesmo dos espíritas, que engordam as fileiras de promessas de final de ano, esquecendo-se que para alcançar transformações mais profundas, na vida material, é preciso consertar as estruturas que não vemos, as subjetivas, representadas pelo senso moral.
Mas, o que é moral, qual a necessidade dessa reforma?
A questão moral passa essencialmente pela ética que é o conjunto de valores, hábitos e costumes de uma cultura ou sociedade, interpretada pelos romanos como moral. A Ética é parte da Filosofia, seus estudos dizem respeito aos valores que o ser humano emprega em sua conduta para que possa alcançar a felicidade. A Ética está ligada à distinção entre o bem e o mal; entre o que é e o que não é proibido, entre o lícito e o ilícito.
Nesse sentido a educação moral vem criar condições para que saibamos como agir, de modo consciente e racional, para uma mudança comportamental quando despertamos para a necessidade de eliminar os pontos negativos que ainda reinam no espírito.
Reforma moral é um processo ininterrupto na busca pelo conhecimento de si mesmo e consequentemente de renovação de estruturas antigas, substituídas por novos paradigmas que levem o espírito a atingir o tão desejado progresso e equilíbrio.
Nesse esquadrinhamento do íntimo pela superação dos vícios e distúrbios a vivência evangélica é fator primordial que ajudará a evitar males presentes e futuros.
Assim como as promessas de final de ano tem como propósito um estado de felicidade, este também é o objetivo da promoção da reforma íntima, que, entretanto, tem um alcance muito maior que meramente o âmbito material, apesar de atingir também este. A reforma moral tem seu raio de ação nas profundezas do espírito levando-o à consciencialização de que ele é o artífice de seu destino a partir de sua conduta.
Reformar-se moralmente envolve promessas de mudanças que nunca fazemos que é mudar interiormente e que requer estarmos cientes das Leis Divinas, e por esta ser uma realidade ainda distante para muitos, sequer conseguimos cumprir simples promessas de fim de ano. Quando tivermos maturidade suficiente para entender que o alcance de uma vida material de realizações requer mudanças de atitudes mentais e espirituais, seremos mais felizes.
A reforma íntima tira os homens das cinzas, mostra a realidade da vida espiritual. É um processo lento, gradativo, esclarecedor, amplia as potencialidades do espírito para a vida imortal e neste momento, é que a abertura para as verdades eternas se farão e não mais haverá promessas de fim de ano que fiquem sem cumprimento. Impregnados de bem estar perceberemos que a reforma íntima é quem cura os males do espírito legando ao corpo novas concepções para a vida na Terra.


Feliz 2016!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Palestra: Frases na Visão Espírita.



Bastante esclarecedora a palestra,  Frases na visão Espírita, proferida por Raul Júnior em 20 de Setembro de 2015 no Centro Espírita Caminheiros do Bem, em Auriflama/SP.

Esta foi a última palestra do confrade que veio a falecer em 18 de dezembro ao retornar de uma palestra em Santa Fé do Sul/SP. 

         Aos que retornam à pátria espiritual o nosso até breve, visto que, todos nós teremos que deixar a roupagem terrestre, somos espíritos e o desencarne faz parte do processo evolutivo.

A faixa em que nos encontraremos no mundo dos espíritos dependerá da forma como tenhamos vivido aqui na Terra. Mas não esqueçamos de que essa faixa está ligada à nossa mente e às vibrações que emanamos e afinidades desenvolvidas.
                    





terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Livros para o presente de Natal:



O Natal é sempre diferente, seja de um ano para o outro, seja ao redor do mundo, o que não muda é a crença no nascimento de Cristo e a tradição de trocar presentes. E para os que ainda não compraram o presente de Natal, aqui vai uma dica, livros são sempre uma boa prenda e livros espíritas trazem algo especial. Neste Natal,  dê um livro espírita de presente, se não for da Codificação, algo que ajude a esclarecer o que é o Espiritismo ou em torno de sua história. 
 Recomendamos: O Livo dos Espíritos para os que não conhecem a Doutrina Espírita e Em nome de Kardec, para aqueles que já tenham noção do que realmente é o Espiritismo.







segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Natal de Jesus

      Mais um ano chega ao fim e as alegrias do Natal tomam conta das pessoas prometendo renovação. Que sejam renovações principalmente de atitudes, que a Reforma Íntima seja a meta de todos no ano de 2016, pois dela depende a nossa real transformação moral, a que nos deixará aptos a sermos servidores úteis na implantação do bem sobre a Terra.

          Para a nossa reflexão, uma linda mensagem de Emmanuel sobre o Natal.

                                       

O Natal de Jesus

Emmanuel


        A Sabedoria da Vida situou o Natal de Jesus frente do Ano Novo, na memória da Humanidade, como que renovando as oportunidades do amor fraterno, diante dos nossos compromissos com o Tempo.

        Projetam-se anualmente, sobre a Terra os mesmos raios excelsos da Estrela de Belém, clareando a estrada dos corações na esteira dos dias incessantes, convocando-nos a alma, em silêncio, à ascensão de todos os recursos para o bem supremo.

         A recordação do Mestre desperta novas vibrações no sentimento da Cristandade.

       Não mais o estábulo simples, nosso próprio espírito, em cujo íntimo o Senhor deseja fazer mais luz...

        Santas alegrias nos procuram a alma, em todos os campos do idealismo evangélico.

       Natural o tom festivo das nossas manifestações de confiança renovada, entretanto, não podemos olvidar o trabalho renovador a que o Natal nos convida, cada ano, não obstante o pessimismo cristalizado de muitos companheiros, que desistiram temporariamente da comunhão fraternal.

     E o ensejo de novas relações, acordando raciocínios enregelados com as notas harmoniosas do amor que o Mestre nos legou.

      E a oportunidade de curar as nossas próprias fraquezas retificando atitudes menos felizes, ou de esquecer as faltas alheias para conosco, restabelecendo os elos da harmonia quebrada entre nós e os demais, em obediência à lição da desculpa espontânea, quantas vezes se fizerem necessárias.
É o passo definitivo para a descoberta de novas sementeiras de serviço edificante, através da visita aos irmãos mais sofredores do que nós mesmos e da aproximação com aqueles que se mostram inclinados à cooperação no progresso, a fim de praticarmos, mais intensivamente, o princípio do “amemo-nos uns aos outros”.

       Conforme a nossa atitude espiritual ante o Natal, assim aparece o Ano Novo à nossa vida.

       O aniversário de Jesus precede o natalício do Tempo.

       Com o Mestre, recebemos o Dia do Amor e da Concórdia.
       Com o tempo, encontramos o Dia da Fraternidade Universal.
       O primeiro renova a alegria.
       O segundo reforma a responsabilidade.

       Comecemos oferecendo a Ele cinco minutos de pensamento e atividade e, a breve espaço, nosso espírito se achará convertido em altar vivo de sua infinita boa vontade para com as criaturas, nas bases da Sabedoria e do Amor.

       Não nos esqueçamos.

      Se Jesus não nascer e crescer, na manjedoura de nossa alma, em vão os Anos Novos se abrirão iluminados para nós.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O que é ou o que deveria ser o Centro Espírita?



Reportando-nos à história, podemos dizer que o centro espírita tem início em 1858 quando Allan Kardec funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujos objetivos eram o estudo e a pesquisa sobre a mediunidade.
Relatos dão conta de que o primeiro centro no Brasil surgiu na Bahia em 1865, era o Grupo Familiar de Espiritismo dirigido por Luis Olímpio Teles de Meneses.
A partir desse momento multiplicam-se os grupos em Salvador  e no Rio de Janeiro.  Paralelo ao movimento de fundação de casas espíritas cresce a popularização da Doutrina, com uma evolução em torno do sincretismo religioso que vai dar origem ao misticismo que hoje reina em muitas casas espíritas espalhadas pelo país.
De acordo com Herculano Pires os espíritas não sabem o que é o Centro Espírita e quais suas funções, visto que, a uma rápida observação, percebe-se que cultos sem ligação ao que seja realmente o Espiritismo foram introduzidos. Os núcleos que deveriam ser de estudos com ênfase na educação do espírito voltaram-se para o assistencialismo desenfreado, clientelismo, isolamento em termos de aquisição da cultura espírita, entre outras mazelas que desvirtuam o legado deixado pelos estudos de Kardec.
Seus praticantes e seguidores, são adeptos de um ritualismo que lembra a manipulação religiosa medieval, em torno da salvação da alma, o que demonstra que tem em si, uma total ignorância sobre o Espiritismo e logo, Kardec não passa de um ilustre desconhecido.
Há no Brasil um claro objetivo que é tornar o Espiritismo uma ramificação da igreja, transformando-o de Doutrina que esclarece sobre a necessidade da reforma íntima, que elucida que a vida não se acaba no túmulo em mais uma seita que adormece as mentes formando um séquito de dementes fanatizados.
Raros são os grupos espíritas onde as pessoas vão para aprender, pois criou-se o hábito da contrição imediatista, enlevada pelo pieguismo caritativo que cria necessitados do corpo em detrimento à educação do espírito.
Vemos nas casas espíritas uma verdadeira barganha com Deus em prol da cura do corpo físico. Os que são atendidos fazem doações inclusive financeiras e as quantias que deveriam ser utilizadas para os trabalhos da casa, por vezes tem destino escuso nas mãos de seus dirigentes.
O hábito dos beatos de barganhar com Deus em prol da redenção da alma se repete de modo escandaloso, quando os que se arrependem da falta de fé, resolvem também fazer doações de altas somas para que possam ver abertas as portas do reino dos céus.
Em nada essas práticas tem relação com a Doutrina Espírita que nesses locais se encontra desprezada e encoberta pelo manto de uma cristandade viciante e altamente perigosa para os rumos do Espiritismo no Brasil.
Quando os membros de um núcleo espírita se pautam por um trabalho realmente sério e comprometido com a herança kardequiana, conteúdos de pretensão mística e doações pela salvação não são levados em consideração, porque existe a preocupação com a ponderação inclusive com o exame minucioso de toda e qualquer mensagem que parta do mundo espiritual.
Em toda casa, os seus trabalhadores e frequentadores devem primar por aperfeiçoar a construção moral o que vai lhes garantir que sejam monitorados por espíritos benevolentes, comprometidos com um trabalho de esclarecimento para os que chegam sem conhecimento prévio do que é o Espiritismo e carregando males físicos e espirituais.
Precisamos de trabalhadores que compreendam a verdadeira essência da Doutrina Espírita e que façam a sua divulgação de modo satisfatoriamente mais próximo de seus princípios, sem tantos arroubos emotivos de santificação.
         Pelo que se vê a Doutrina ainda está longe de ser conhecida e ensinada pelos seus próprios seguidores, que fazem das atividades na casa espírita reflexo de seus interesses pessoais, de sua falta de estudos e de sua falta de cultura doutrinária.
Essa confusão não é nova, em seu tempo, Allan Kardec já comentava sobre o trocadilho de idéias e charlatanismo para atacar o Espiritismo, o mais interessante nisso, é que nos dias de hoje, são os próprios adeptos da Doutrina os promotores do charlatanismo e do trocadilho de idéias.
O certo é que, tendo sua função desviada de sua verdadeira vocação, os centros espíritas estão entregues a rezadores e penitentes dispostos a qualquer ação pela remissão dos pecados e das doenças do corpo.
Refúgio de almas desorientadas, deste e do outro lado, disseminam a culpa de tudo e mais alguma coisa nos obsessores sem nenhum compromisso com a verdade espiritual que constantemente é fraudada e desrespeitada pela falta de comprometimento daqueles que deveriam zelar pelo bom nome do Espiritismo.
Mais do que se prestar ao assistencialismo desmedido, o centro espírita é local para o esclarecimento das mentes ainda soterradas no desconhecimento das Leis Divinas, é local para a defesa do Espiritismo contra os embustes que pululam por toda parte, é onde deve estar o estudo sério e consciente sobre os seus conceitos em relação à natureza do homem mostrando que a Doutrina não pede a  ninguém subordinação, troca de favores ou obediência cega.
É o centro espírita responsável por dignificar o ser dando a conhecer que o homem não veio ao mundo para ser martirizado, que seu destino não é sofrer, mas educar-se tendo como objetivo o progresso incutido na pluralidade das existências.

Para os que se interessam pelo assunto e querem conhecer um pouco mais, recomendo a obra O centro Espírita, de Herculano Pires, disponível para download no link abaixo. A todos uma boa leitura!



segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Conhecendo O Livro dos Espíritos




Todos os dias as casas espíritas recebem novos aspirantes a trabalhadores da Doutrina. Muitos procuram o Espiritismo por curiosidade, outros devido à dor, mas há também os que vão pela vontade plena do conhecimento. 

Normalmente, os que chegam ávidos por saber mais sobre o que é o Espiritismo, dirigem-se aos trabalhadores da casa e solicitam uma indicação sobre o que deveriam ler e lhe são apontadas obras subsidiárias e como suporte, os romances. A justificativa é sempre a mesma, que o neófito deve iniciar seu conhecimento a partir de leituras mais simples e mais ilustrativas, pois que as obras da Codificação são complexas para os que não têm alguma noção sobre Espiritismo.

Ao trabalhar com a divulgação da Doutrina, não passou despercebido a Allan Kardec, uma produção que contivesse as informações básicas sobre a nova Doutrina. Didaticamente dividida em capítulos, que introduzem os assuntos, de forma a facilitar o entendimento de todos, com conhecimento prévio ou não, sobre o Espiritismo, eis que por isso mesmo, é o Livro dos Espíritos o primeiro a ser publicado.

O Livro dos Espíritos, que veio a lume em 18 de abril de 1857, é obra basilar para todos os que quiserem realmente conhecer a Doutrina. Contém a teoria Espírita, dentro de um contexto filosófico socrático e a obra se desenvolve magistralmente em 1018 perguntas e respostas em volta dos questionamentos básicos do ser: quem sou, de onde vim e para onde vou.  Allan Kardec ainda orienta sobre como as obras básicas devem ser lidas a fim de que se tenha uma melhor compreensão do conteúdo.

Na introdução de O Livro dos Médiuns, é recomendada a leitura de O Livro dos Espíritos em primeiro lugar, pois este contém os princípios fundamentais para a compreensão das manifestações e dos fenômenos espírita.

Apesar de propagandearem em torno das obras básicas, muitos espíritas sequer abriram um livro da Codificação. Com conhecimentos que giram em torno de obras de cunho duvidoso, e o mercado hoje encontra-se abarrotado desse comércio que acrescenta cifrões aos bolsos das editoras e de seus pseudo autores, alguns dirigentes e outros trabalhadores das casas espíritas, arvoram-se de profundos conhecedores da Doutrina sem entretanto conhecerem as obras de Kardec.

Podemos dizer que o perigo ronda de sobremaneira o movimento espírita visto que, algumas obras, incutem nos distraídos noções deturpadas e fantasiosas de um suposto espiritismo, passadas mediunicamente por espíritos de caráter questionável.

O Livro dos Espíritos é a obra para dirimir todas e quaisquer dúvidas em relação à Doutrina Espírita. Se os espíritas se preocupassem mais com o estudo da Codificação em vez de ficar especulando se Allan Kardec reencarnou ou não no Brasil, teríamos um movimento mais harmônico e sem deslumbramento místico.

O Livro dos Espíritos é uma obra lúcida, lógica que não dá margem a dúvidas ou a elucubrações eivadas de critérios incompreensíveis.  Toda a estrutura da Doutrina Espírita se encontra delineada no Livro dos Espíritos, com questionamentos claros e respostas concisas dadas pelos espíritos, detalhadamente estudadas por Allan Kardec antes de comporem a obra.  

A obra de Kardec é de todos os tempos e para todas as pessoas. O Livro dos Espíritos é para ser lido, estudado, refletido e acima de tudo para bem compreender a Doutrina Espírita.

  

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A França do século XIX e o Espiritismo.


No momento em que Allan Kardec deu início às pesquisas que teria como consequência a Doutrina Espírita, a França passava por mudanças políticas significativas, fruto de revoluções, principalmente a de 1789, que contestavam o antigo regime. 
Havia uma grande disparidade no modo de vida da população. Se de um lado havia os que se beneficiavam do sistema político, vivendo de modo privilegiado, do outro havia uma grande massa de miseráveis  marginalizada.  Autores da época, como Vitor Hugo, retrataram o caos social com o aumento da pobreza tanto no campo, quanto na cidade.
O desastre era sem precedências que aliado a epidemias, desemprego, violência e fome levavam as pessoas a viver nas ruas em busca de esmolas carregando o estereotipo de vagabundos e desordeiros constantemente lavrados em autos criminais.
O clima de insegurança gerava uma visão dantesca da pobreza, vista com compaixão pelos liberais que acreditavam que deveriam dar ajuda, em meio à permanência da crença de que ser pobre era um pecado com o discurso dos que eram a favor de banir os pobres das ruas acusados pelo aumento de mazelas sociais como a prostituição, levando a efeito medidas drásticas, como dar sumiço, misteriosamente, a jovens que vagavam.  As autoridades lavavam as mãos, mas era a própria polícia encarregada desse “sequestro” e de encaminhá-los para o trabalho nas galés.
Por esta época a caridade religiosa, que vinha desde a Idade Média promovendo os pobres a uma condição de vida mais digna, desaparecia paulatinamente.
Os sistemas que questionavam a existência e a sociedade se encontravam em evidência. O materialismo, o marxismo, o existencialismo que procuravam dar uma visão mais realista da vida em detrimento da visão conformista passada pelas religiões levava a profundas interrogações em torno da existência humana e de seus fatores como a morte, a solidão, a liberdade, a essência do sentido da vida.
De um lado Karl Marx afirmava que a religião era o ópio do povo e Nietzsche não poupou criticas à sociedade ao afirmar que Deus estava morto. Neste contexto, o filosofo se referia ao afastamento do homem do sistema religioso e seu mergulho no niilismo.
A França do século XIX amargava uma extrema desigualdade social e também cultural em consequência dos desastres econômicos e da falta de uma política socioeconômica estruturada.  Essa situação de penúria, não passou despercebida de Allan Kardec que vai discutir na Lei de Igualdade em O Livro dos Espíritos, os parâmetros para uma sociedade mais justa e em artigo publicado em Obras Póstumas expõe seu pensamento sobre o pilar da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade em um contexto mais espiritualizado.
A instabilidade que permaneceu após a Revolução, não permitiu a implantação de um estado de plena igualdade, a burguesia, apavorada com a possibilidade de perder seu lugar ao sol, esqueceu-se dos ideais decantados anos antes tentando uma reorganização política baseada na força. Teoricamente a ideologia em torno da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade permanecia como um projeto social sufocado pelo individualismo dos que não queriam perder seus privilégios.
Para Kardec, essa tríade daria à sociedade resultados positivos se não tivesse sido sufocada por interesses pessoais e fosse aplicada de modo integral. 
Em sua concepção, a fraternidade para  ter uma ação social satisfatória, deveria ser bem entendida e por isso mesmo, sabiamente aplicada,  mas a sociedade impôs obstáculos ao seu pleno êxito, visto que os homens não possuíam espírito de devotamento e benevolência uns para com os outros, que seria a aplicação da máxima cristã de fazer aos outros aquilo que gostaria que os outros fizessem a si.
         A igualdade social viria em decorrência da vivência equilibrada da fraternidade, porém, enquanto o orgulho fosse a companhia que acalentasse o ego humano, uma sociedade igualitária jamais poderia se implantar de forma verdadeira.
Em relação à liberdade Kardec a classifica como consequência dos pilares anteriores, mas a liberdade legal e não a liberdade natural que faz parte de todo ser humano.  Porém, esta liberdade legal encontrava-se tolhida pela falta de justiça social e pelo egoísmo que suprimiam a confiança dos homens uns nos outros e como as três ordens necessitavam estar unidas e em perfeita conjunção para que pudessem lograr equilíbrio ao meio social, apenas quando houvesse um sentimento verdadeiro de progresso é que elas deixariam de ser uma mera paisagem social. 
Só com a compreensão do profundo e real significado da fraternidade, da igualdade e da liberdade ao lado do crescimento moral, é que se chegaria a uma sociedade eficientemente desenvolvida em termos materiais e espirituais.
         A partir desta análise de Kardec, podemos perceber melhor porque o contexto deflagrado com a Revolução Francesa não surtiu efeitos sociais satisfatórios em um curto prazo. Todos ansiavam uma mudança material sem a percepção da necessidade de uma mudança no âmbito moral para o pleno êxito do programa revolucionário.
Podemos aplicar o pensamento de Kardec ao contexto mundial atual, tanto interno quanto externo, onde vemos a ascensão de grupos que reivindicam poderes políticos, mas que se posicionam contra a liberdade de expressão e a favor de injustiças com a fundação de partidarismos e ideologias sem sentido reivindicando que as leis sirvam ao seu bel prazer, esquecendo-se que leis são de fato um direito de todos.
         Por isso mesmo, a justiça social só se fará quando houver a conscientização de que é preciso mudar paradigmas não apenas materiais, mas, sobretudo morais.


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Herculano Pires, o Espiritismo bem compreendido.


       Ter a oportunidade de citar José Herculano Pires é trazer esclarecimento sobre a necessidade de estudar o Espiritismo e mais uma vez levar a público seus pensamentos, suas observações e explanações lúcidas em torno da filosofia espiritual.

     Herculano faz jus ao título de o mais célebre e sério divulgador e defensor da Doutrina Espírita no Brasil, graduado em Filosofia foi certamente dos mais enérgicos e atuantes trabalhadores do movimento espírita, combatendo de forma veemente os modismos e o preconceito dos que desdenhavam a Doutrina. Sempre consciente, foi denominado por Emmanuel como “O metro que melhor mediu Allan Kardec.”

     Estudou e escreveu muito sobre a Doutrina Espírita e seus aspectos filosófico, educativo, ético, cientifico. Polêmico, nunca aceitou que a Doutrina fosse usada como um trampolim para exibição de status social tinha um compromisso com a divulgação de um Espiritismo verdadeiro e sem dogmatismo e por isso foi duramente atacado pelos próprios espíritas cujos conceitos se encontravam distantes dos princípios básicos e em consequência trabalhados de forma inadequada. 

     Questionou a FEB – Federação Espírita Brasileira e sua predileção por fixar parâmetros roustainguistas ao Espiritismo no Brasil em detrimento de Allan Kardec. Não aceitava o misticismo e assim como Kardec, pautou seus estudos investigativos buscando subsídios no mundo inteiro, não examinou de forma simplória o fenômeno, analisou as suas causas.

      Seus estudos filosóficos legaram uma das grandes obras para a Doutrina Espírita, Introdução à Filosofia Espírita onde faz um brilhante estudo comparado entre a Filosofia Espírita e os sistemas em evidência no século XIX como o materialismo e o existencialismo. Herculano demonstra nesta obra a importância da Filosofia Espírita para o futuro propondo a Filosofia Espírita da Existência ou o Existencialismo Espírita.

 É também de Herculano a magistral incursão pelo mundo da educação, a Pedagogia Espírita.  Para ele, o Espiritismo representa uma revolução cultural com um profundo caráter pedagógico, onde o propósito é uma escola onde os métodos sejam laicos, livre do sectarismo que no seu entender foi a razão fundamental da luta entre Ciência e Religião e que de forma violenta poderá apossar-se das crianças assim ocorreu no ensino do passado, que arraigado a sistemas religiosos desenvolveu um homem técnico e submisso.

     A proposta da Pedagogia Espírita é de uma educação que leve o homem a ser consciente de seus deveres e responsável por seus atos, mas que ao mesmo tempo, reconheça em Deus a Inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas.

      Frase de Herculano: Os adversários partem do preconceito e agem por precipitação. Os espíritas formularam uma idéia pessoal da Doutrina, um estereótipo mental a que se apegaram.   

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

EDUCAÇÃO PARA UM NOVO MUNDO


               
                        “Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.
                                      Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé                                  sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.”
                                                                                                       Tiago, cap.2 v 17 -18.


      No ano de 1854 tem início as pesquisas que vão culminar com a Doutrina Espírita, tendo à frente Hipolyte Léon Denizard Rivail, emérito pedagogo que ficará conhecido pelo nome de Allan Kardec e que dedicou trinta anos de sua vida à educação, antes de adentrar os estudos espíritas.

      Discípulo de Pestalozzi, grande pedagogo da época e estudioso de tudo o que se relacionasse com as leis da natureza e com a natureza do homem, Allan Kardec sabia que o homem é o objeto de estudos da educação.

      Sua preocupação com o conhecimento e mais ainda, que as pessoas pudessem adquiri-lo, fica clara na estrutura de suas obras didaticamente organizadas a fim de que todos pudessem ter acesso.

      Apaixonado pela Pedagogia, não teve porém tempo de deixar uma obra nesse âmbito específico, porém, nos legou através do Espiritismo, todo o alicerce necessário para o empreendimento.

      O Espiritismo chega ao Brasil, em 1863, através de notícia no jornal sobre a febre das mesas girantes na Europa. Dois anos depois, funda-se o primeiro núcleo espírita na cidade de Salvador.
   
      A partir dai, o Espiritismo expande-se pelo País onde destacam-se grandes trabalhadores como Adolfo Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo que muito contribuiu para a divulgação do Espiritismo na vertente da caridade e da educação onde utilizou uma metodologia baseada nos postulados kardequianos.

O ESPIRITISMO COMO PLANO PEDAGÓGICO

      É no Brasil que surge o termo Pedagogia Espírita, tendo com suporte, além dos estudos de Allan Kardec, Sócrates, Platão, Rousseau, Pestalozzi e Comenius.

      A primeira escola Espírita fundada foi o Colégio Allan Kardec por Eurípedes Barsanulfo (1880 – 1918), na cidade de Sacramento, interior de Minas Gerais em 1º de Abril de 1907.
   
      Eurípedes nasceu e viveu em Sacramento. De família humilde, teve porém a oportunidade de estudar com bons professores. De inteligência notável, autodidata, sobressai-se como líder religioso. Eurípedes era Católico e tinha também uma presença ativa no meio cultural e político.

      Aos 12/13 anos, fundou o Grêmio Dramático e mais tarde participou da Gazeta de Sacramento quando esta ainda iniciava suas atividades.Queria estudar Medicina, mas como teria que se deslocar para o Rio de Janeiro, preferiu permanecer em Sacramento pela preocupação com sua mãe que sofria desmaios inexplicáveis constantemente.

      Mas não desistiu de seu sonho, estudou sozinho Homeopatia e montou uma farmácia onde atendia os que o procuravam. Aos 22 anos, fundou com outros professores o Liceu Sacramentano.
Co- fundador e secretário da Irmandade de São Vicente de Paulo, era bem querido pelos clérigos da cidade – Padres e Bispos.

      Mas o caminho de Eurípedes ganha uma nova dimensão quando o tio lhe dá de presente um livro de Léon Denis e passa a frequentar no vilarejo de Santa Maria, próximo à sua cidade, reuniões mediúnicas.

      Os fenômenos que presencia não lhe deixam dúvidas quanto à veracidade.

      Sua nova visão não é bem recebida por familiares, amigos e alunos que passam a julgá-lo louco. 

      Seus companheiros do Liceu abandonam os cargos. O mobiliário é tirado e o Liceu chega ao fim.

      Só, Eurípedes reabre o Liceu em uma pequena sala, mas era raro a frequência de alunos.

      Abatido, é orientado pelos espíritos para novos rumos no campo educacional. No ano de 1905 abre o Grupo Espírita “Esperança e Caridade”, já apoiado por seus familiares e amigos, onde desenvolve trabalhos doutrinários e de assistência social.

      Recebe uma mensagem de Maria, a mãe de Jesus, que segue à risca e funda o Colégio Allan Kardec tendo como base a Doutrina Espírita.

      O Colégio abre com curso de Astronomia e também de Espiritismo. Na mensagem, Maria lhe dissera que cobriria o colégio com seu manto protetor, pouco tempo depois o colégio cresce, torna-se conhecido na região e com um grande número de alunos, o que era um verdadeiro fenômeno para uma época em que o Espiritismo sofria com o preconceito.

      A essa época, a família de Eurípedes já aderira ao Espiritismo e o ajudava com o Colégio.

      A estrutura curricular do colégio contava com o ensino primário, ensino médio e o curso superior a cargo de Eurípedes.

      Os professores eram voluntários e o Colégio aberto a todos os que quisessem, era gratuito e com classes mistas. Este era mais um avanço, pois nas escolas meninas e meninos não se misturavam. E foi mais um alvoroço na cidade.

       O colégio tinha uma procura tão grande, que as matrículas encerravam-se no mesmo dia em que abriam, eram em média 100 a 200 alunos, isto levou um colégio de freiras da região a fechar por falta de procura.

      A estratégia pedagógica estava voltada para a construção do ser humano, legitimada pelas teorias de Jean Jacques Rousseau e Pestalozzi.

      A postura de Eurípedes com os alunos era como a de Pestalozzi. Diante dos conflitos, dialogava amorosamente, conversava com os alunos sobre os problemas que envolviam o comportamento.

      Eurípedes incentivava os alunos para que houvesse um melhor rendimento no aprendizado. E nesse sentido, havia avaliação contínua, que também era uma novidade na época, boletins mensais com conceitos. Esse sistema permitia ao aluno acompanhar e perceber o seu próprio desenvolvimento.
     
      No final do ano letivo havia os exames gerais, mas o seu objetivo não era a aprovação ou reprovação do aluno, mas perceber o seu crescimento.

      De acordo com as análises dos professores, os alunos mudariam de ano letivo ou não.

       Nos exames finais, acontecia uma festa da qual todos participavam, inclusive pais e amigos dos alunos e todos envolviam-se nos debates que decorriam cujos assuntos estavam relacionados aos estudados durante o ano. Os convidados questionavam os alunos e interferiam para dar opiniões, completar ou corrigir respostas.

      O ápice da festa era a apresentação de uma peça de teatro montada pelos alunos. Durante as aulas havia a aplicação da eloquência e da argumentação lógica e todas as semanas ocorriam debates entre os alunos. Uma parte das aulas era dedicada à exposição com explicações dadas pelo professor.

      Nas aulas de Ciências, dissecavam-se animais; nas de Astronomia, observa-se o céu; ainda havia ginástica, exercícios respiratórios, aulas ao ar livre, exercícios de racionalidade, observação da natureza, reflexão crítica. Todo o conjunto voltado para o desenvolvimento intelectual.

      Além dessas, a prática da fraternidade e da oração para o desenvolvimento dos valores espirituais.

      O trabalho moral era o centro do plano pedagógico. Ajudava-se a comunidade, havia laboratório onde preparavam-se remédios a partir das fórmulas recebidas por via mediúnica.

      Atendiam a doentes de várias localidades com qualquer tipo de doença. Eurípedes fazia partos, atendia pessoas com problemas mentais, pois havia a noção de que por trás de um desequilíbrio mental estava um processo de obsessão.

      Os alunos ajudavam aviando as receitas, cuidando dos doentes que ficavam hospedados no Colégio e também acompanhavam Eurípedes nas visitas e nos velórios onde tinha por hábito ir orar.

       Eurípedes Barsanulfo não apenas inova nesse sentido, como também amplia essa inovação incluindo o exercício da mediunidade entre os seus alunos.

      Portador de uma mediunidade fabulosa que reunia a psicofonia, o desdobramento, vidência. Os alunos acostumaram-se a presenciar os fenômenos mediúnicos, pois Eurípedes entrava em transe durante as aulas.

      Ao retornar de um transe, Eurípedes costumava relatar aos alunos o que havia visto. Durante a 1ª grande Guerra, em desdobramento, foi até campos de batalha e contava o que havia presenciado.

       Os alunos do nível superior e que já estudavam Espiritismo, frequentavam as reuniões mediúnicas à noite no Colégio de livre e espontânea vontade.

      Assim como Kardec, Eurípedes acreditava que o homem era um ser mediúnico por natureza e sabia que a criança tem uma maior capacidade para compreender e sentir a partir do momento em que ela aprenda que não há mistérios, irracionalidades ou algo sobrenatural em torno dos fenômenos mediúnicos. Eurípedes via na criança um ser individual, criativo, ativo e livre.

       O Colégio Allan Kardec, suspendeu as atividades momentaneamente, devido ao surto de gripe espanhola que assolou o País.

       Nos fundamentos e princípios dos planos pedagógicos traçados por Eurípedes estavam:

 O homem é um ser espiritual, logo interexistente;
 A criança é um Espírito reencarnado;
 A vida é um processo de aprendizagem cujo objetivo é a perfeição;
 O objetivo do existir é fazer com que a alma revele sua origem divina;
 A educação é também um processo de auto-educação;
 A função do educador é despertar o aluno e incentivar o gosto pela auto-educação, pois educação é processo de ajuda e progresso sem imposições e pode ocorrer em qualquer relação entre os seres humanos.
Os princípios da Pedagogia Espírita:
 Liberdade → em qualquer processo pedagógico deve-se ter em mente que o homem é um ser livre e que deve aderir de forma voluntária à proposta de evolução;
 Ação → o ser só aprende quando ele age, experimenta e ensaia, mesmo que erre, pois só assim poderá desenvolver suas potencialidades;
 Amor → este é o elo do processo de evolução. A relação pedagógica deve estar fundamentada na Lei de Amor, só este sentimento é capaz de elevar a alma a despertar o ser para as verdades divinas e evoluir.

       Eurípedes Barsanulfo foi um autêntico Espírita. Desencarnou ajudando as pessoas vítimas da epidemia de gripe, epidemia vista por ele em um de seus desdobramentos.

      Perseguido não desistiu e Lauret Godoy descreve em seu livro Maravilhosos encontros com Eurípedes Barsanulfo um desses momentos, quando em 1913, um padre de Campinas, Feliciano Yague fora chamado por religiosos de Sacramento para anular a influência de Eurípedes, desmoralizar o Espiritismo e desqualificar o Colégio Allan Kardec.

      Eurípedes propôs um debate público “No dia marcado, a praça da matriz estava repleta de sacramentanos e espíritas das cidades vizinhas, desejosos de assistir ao confronto que prometia ser memorável. E foi. Todos os argumentos do padre Iague objetivavam desmoralizar Eurípedes e o Espiritismo. Caíram por terra, um a um, graças ao raciocínio lógico, tranqüilo, consistente e pleno das palavras de Jesus por parte de Eurípedes. Ele foi vitorioso e precisou conter os entusiasmados espíritas, que desejavam carregá-lo em triunfo”.

      Seu grandioso trabalho em torno da educação do Espírito o legou o merecido título de precursor da Pedagogia Espírita. Não só um grande educador, como um extraordinário médium, que não poupou esforços em divulgar o Espiritismo em um período em que imperava o Catolicismo e em que as dificuldades eram imensas para quem professe outro credo se não o tradicional.

      Um grande Espírita, e acima de tudo, um grande Espírito, um exemplo para todos os adeptos e trabalhadores da Doutrina Espírita. Usou sua mediunidade de maneira digna, disciplinada e com amor, como todo o serviço que realizava.

      Com inigualável dedicação à causa Espírita no Colégio Allan Kardec e no Grupo Espírita Esperança e Caridade, trabalhou incansavelmente em beneficio dos mais necessitados, mesmo sob ameaça de morte por parte de seus adversários, e por isso Eurípedes Barsanulfo é também conhecido como o Apóstolo da Caridade.



Colégio Allan Kardec – Sacramento- MG – fundado em 1907 
Fonte: Educadores do Brasil.

BIBLIOGRAFIA:
GODOY, Lauret. Maravilhosos Encontros com Eurípedes Barsanulfo. 1ª ed. s/l: Edição do Autor. 2002.

NOVELINO, Corina. Eurípedes, o Homem e a Missão. 3.ed., Araras: IDE, 1979.


Obs. Este artigo foi publicado em 27/06/2010 no Blog de Espiritismo.

http://blog-espiritismo.blogspot.com.br/2010/06/educacao-para-um-novo-mundo-por-solange.html

domingo, 29 de novembro de 2015

Educação Mediúnica e fraude mediúnica.



A bem dizer, a mediunidade não é invenção da Doutrina Espírita. Encontramos referências sobre a mediunidade ao longo da história da humanidade, tendo sido classificada como fenômeno demoníaco ou milagroso. No século XIX, Allan Kardec ao estudar os fenômenos de intercâmbio entre o  mundo dos vivos e o chamado mundo dos mortos, veio mostrar que a mediunidade é uma faculdade natural do homem, que todos a tem em maior ou menor grau e que não é necessário recitar fórmulas para que ela possa manifestar-se promovendo as relações entre os planos terrestre e espiritual. Para que se possa exercitá-la com honestidade e segurança faz-se necessário estudo, equilíbrio, planejamento, organização, ou seja, educação.

O que é educação mediúnica?

A Educação mediúnica é o mecanismo ideal e necessário para que a faculdade possa ser produtiva.  A mediunidade promove o progresso espiritual e uma maior compreensão de mundo; sendo a mediunidade  uma troca edificante de experiências devido ao processo de interação com o mundo dos espíritos, estando esse mecanismo devidamente harmonizado, terá como consequências a prática da caridade e a certeza na sobrevivência após a morte do corpo físico. Mediunidade é comunicação e de acordo com Herculano Pires, se desenvolve de modo natural naqueles que apresentam uma maior sensibilidade para captar as energias que partem do plano espiritual.

Ainda citando Herculano, a mediunidade é um fenômeno sempre em movimento, que se atualiza através dos pressentimentos e previsões, mesmo as mais simples.

O contato com o mundo espiritual é permanente e segundo Kardec, ele se dá durante o estado de vigília e também durante o sono.

Conclui Herculano que a mediunidade é a manifestação do espírito através do corpo, pois durante o ato mediúnico manifesta-se tanto o próprio espírito do médium quanto o espírito que dele se aproxima para dar sua comunicação.

No entanto, para que este processo possa se dar sem problemas de grandes proporções, existe a necessidade de promover a disciplina desse processo de relação que é a educação mediúnica.

Manoel Philomeno de Miranda recomenda que o desenvolvimento mediúnico deve ser permitido apenas àquele que adquira conhecimento lógico e lúcido através do estudo de O Livro dos Médiuns, ou seja, àquele que busque educar seu modos e visão sobre a mediunidade a fim de que possa aprimorar-se visto ser uma disposição orgânica profundamente arraigada aos valores morais do Espírito.

Quem se propõe desenvolver sues dons mediúnicos deve estar ciente que precisa trabalhar seu caráter e seus pendores morais pois quanto mais esclarecido caminhará na observância de si mesmo detectando onde ainda precisa melhorar-se.

A educação mediúnica é para toda a vida, é processo de lucidez e discernimento, sem isso, não consciência plena há apenas mistificação e personalismo.
Para que serve a educação mediúnica?

Para tornar proveitoso e produtivo o ato mediúnico, serve para o médium controlar os seus e os impulsos da entidade comunicante, serve para promover a segurança e o respeito ao próximo.  A questão é que muitos médiuns não veem como necessário educar-se por julgar que sendo médium tem conhecimento sobre tudo o que diz respeito ao Espiritismo. Para estes a mediunidade é uma espécie de santificação, tornam mítico e falso um ato puramente natural.  A mediunidade não é um instrumento para o médium julgar-se melhor que os outros, pelo contrário, é um instrumento que vem para ajudar na reforma íntima do indivíduo que almeja progresso espiritual.

Sem educação mediúnica as criaturas estão muito mais propensas a julgar-se um deus e a fingir uma comunicação. Muitos por sentirem vergonha de sentar a uma mesa mediúnica e não conseguir contato com o além e outros por má fé. Ambos são perigosos, mas o pretenso espírita que age de má fé não só demonstra sua falta de caráter como põe em ridículo a Doutrina. Se a mediunidade é um fenômeno espontâneo, mais ainda o deve ser o médium que é um ser humano e espiritual em processo de aprendizado. Fingimento é artifício de indivíduos desonestos.

Podemos pensar que são poucas as pessoas que se dão a tais ações, mas infelizmente, a assertiva não é verdadeira.  O médium mistificador e mentiroso se encontra em qualquer lugar, este caracteriza-se por fingir, premeditar de modo consciente que se encontra sob transe mediúnico. Na realidade inventa uma comunicação para tentar ridicularizar os companheiros de trabalho, ou como já citado, para não se sentir constrangido por não ter uma mediunidade mais ostensiva.

Não se pode confundir fraude com animismo. O animismo é uma expansão do próprio espírito do médium, são incursões em seu subconsciente a fraude é fingimento, é trapaça.

Os espíritos advertem através de Kardec que as fraudes podem ter consequências desagradáveis, as pessoas que assim agem, coloca Kardec, são gracejadores de mau gosto e se fazem mais presentes em reuniões levianas e frívolas, pois em locais sérios só se admitem pessoas também sérias.

O médium sem educação e que se compraz em fraudar a ação mediúnica deve ser tratado e conscientizado de sua necessidade de instruir-se e suas comunicações  ou mensagens escritas devem ser submetidas a criterioso exame critico e lúcido a fim de verificar se tem objetividade ou se não passam de parvoíces ilustradas do próprio médium em seu processo de tapeação.  O exercício fraudulento da mediunidade parte de pessoas que bem pouco compreendem a necessidade de burilamento moral, revelam sua condição de ignorância.
            
           A educação da mediunidade, seu estudo e compreensão da reforma moral, podem estimular a que se trabalhe o intercâmbio com o mundo invisível de modo seguro e sem simulações. Mas, diz Kardec, este processo poderá ocorrer desta forma se não houver por parte do médium nenhum interesse material em jogo.


Mais sobre este assunto poderá se visto em O Livro dos Médiuns – Allan Kardec, Diversidade de Carismas e Mediunidade – Vida e Comunicação ambos de autoria de Herculano Pires e Mediunidade: desafios e bênçãos – Manoel Philomeno de Miranda.