segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O meu olho é ruim porque o seu é bom?



Por que  vês tu, pois o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho? 
Mateus, 7: 3-5.




      As palestras espíritas são um meio para a divulgação da Doutrina e por isso mesmo, é uma mensagem que deve ser transmitida equilibradamente, de forma que, os que estiverem tomando contato pela primeira vez com o Espiritismo, possam ter um entendimento inicial satisfatório.

Por se tratar de uma aula, deve ser bem elaborada, dando ao orador a oportunidade de interagir com a assistência e promover esclarecimentos.

         Porém, temos visto o púlpito espírita ser utilizado por palestrantes para explanar insatisfações pessoais, fazer campanha política, “lavar a roupa suja” com os companheiros da casa, difamar e agredir até mesmo a quem não frequenta o centro.

         Palestrantes que se acham profundos conhecedores da Doutrina Espírita, mas que nunca leram nem mesmo o Evangelho Segundo o Espiritismo, que gostam de serem tratados como irmãos em Cristo, convencidos de que estão em posição de destaque, sentem-se no direito de apontar o dedo, ao que à priori julga ser negativo.

         Assim com um PowerPoint filosoficamente ilustrado, fazem referências a coisas e pessoas que são chamadas de embusteiras, caloteiras e farsantes.

         Amai-vos e Instrui-vos, ensina o Espiritismo, mas ao que tudo indica, estamos passando longe, bem longe do real entendimento desta chamada de atenção...

         Não temos o direito de citar nomes, sejam de pessoas ou empresas e ainda mais sem um conhecimento real a respeito do outro e utilizando adjetivos que desqualificam de forma absolutamente acintosa como se estivéssemos completamente incólumes de sermos também apontados como embusteiros.

         Além de ser uma tremenda falta de caridade, é imoral sendo também algo passível a um processo judicial por calúnia e difamação. Lembremos, quando apontamos um dedo a outrem, temos três voltados para nós...

         Não temos condições de mensurar as razões alheias e julgar sem conhecimento de causa é passar atestado de incompetência. Além disso, queremos justificar nossos erros afirmando que ainda não aprendemos a ser tolerantes... Ora de certa forma, utilizamos o mesmo desculpismo de outrora para dar embasamento legal às nossas ações bizarras, de que “a carne é fraca”.

         Se quisermos realmente amor e instrução em nossas vidas, aprendamos enquanto é tempo a sermos sujeitos espirituais autênticos. Coloquemo-nos no lugar do outro e tentemos entender a sua visão de mundo. Busquemos pensar como ele, ver a vida como ele a vê, perceber seus limites e conhecimentos, os seus porquês e experiências. Desta forma, talvez tenhamos condições de perceber que com o mesmo arcabouço cultural e espiritual, agiríamos igual ou talvez pior.

         Mas, a sede de demonstração de poder e conhecimento ultrapassam as fronteiras do bom senso, pois além da utilização irracional dos mecanismos que deveriam servir para construir, utilizam-se também das redes sociais com a mesma intenção maléfica.

         No centro Espírita os aplausos inflam os egos, no mundo virtual o “like/gosto/curtir” e comentários favoráveis tem a mesma função: dar razão ao irracional que se julga superior.

         Análises unilaterais e desprovidas de lucidez e emoção equilibrada. Se quisermos corrigir o outro, comecemos por nós mesmos.

         Para o bem da verdade, não sabemos nada que possa nos dar subsídios para ostentarmos o título de sábios, mesmo que laureados por um PhD. O conhecimento de ninguém está pronto e acabado, todos nós aprendemos a cada dia um pouco mais, uns com os outros. O conhecimento é uma construção que acompanha o progresso do Espírito, portanto, mais humildade e menos orgulho.  Atentemos para o ditado popular: cautela e caldo de galinha, não fazem mal a ninguém.
          
          

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Programa No Limiar do Amanhã



Na década de 70 (Século XX), o Grupo Espírita Emmanuel  produziu o programa radiofônico No Limiar do Amanhã, apresentado pelo professor Herculano Pires, onde este respondia as perguntas dos ouvintes de modo profundo e lúcido.

      Confira o trecho de um dos programas no qual Herculano faz uma comparação entre André Luiz e Ramatis. 






         


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016



Quando falamos em fé, nos reportamos a símbolos que dentro da nossa tradição cultural,  nos foram impostos desde a infância e em vidas pregressas alguns estivemos à frente de ideologias religiosas obrigando a sua aceitação de forma violenta.

Na conjuntura católica esses símbolos são representados pelos credos, orações, confissão, entre outros que são as bases para a catequese, considerados como ponto principal da educação cristã.  A história nos mostra que essa fé, que fora preconizada como preceito indiscutível foi responsável por atrocidades, mas também pelos chamados milagres.

Mas afinal, porque existe a fé? O que significa ter fé? Porque a fé se transforma em fanatismo?

Estudiosos alegam que a fé nunca esteve ligada à razão, pois sendo racional, ela não poderia fluir entre as pessoas de pouca cultura. Em Depois da Morte, Léon Denis afirma que ninguém adquire fé se não tiver passado pelas tribulações da dúvida ou mesmo sem ter padecido angústias e que a fé é aquele sentimento que arrebata e anima de forma convicta e não simplesmente uma mera crença em dogmas religiosos. Para Tomás de Aquino, a fé é sabedoria máxima, porque eleva o pensamento para o Superior.

Porém o que vemos comumente, como manifestação de fé, é mesmo a crença nos dogmas aceitos como verdadeiros.  Esta é a fé cega, que leva o individuo a tornar-se fanático e perigoso por promover o sentimento de conformismo e ao mesmo tempo combativo contra os que julgar infiéis.

 O conformismo leva também o homem a colocar todos os acontecimentos de sua vida nas mãos de Deus. Tudo o que lhes ocorre é “porque Deus quis”. Na grande maioria das vezes, os conformistas não se lembram de dizer, em situações positivas, que elas ocorreram porque Deus assim o quis.

Julga-se entretanto, que na Doutrina Espírita, por encontrarmos de forma clara e objetiva o ensinamento sobre a fé raciocinada, a que tem sua base na verdade, que refuta a mentira e a ilusão que o desequilíbrio em torno desse sentimento, possivelmente, não existiria... Oh, quanto nos enganamos, onde há ser humano, há distorções e mesmo nas casas espíritas mais sérias, encontraremos expressões de fé cega.

Ao adentrar a terra brasilis, a Doutrina Espírita não passou incólume ao processo de mistificação, devido ao sincretismo religioso que por aqui já reinava.  Assim, a fé raciocinada, propalada através da Codificação, foi substituída pela falta de raciocínio gravitando ao seu redor o mesmo conformismo e histerismo de outras seitas.

Sem optar pelo discernimento, muitos dirigentes espíritas pregam uma emotividade doentia para legitimar o que chamam de manifestação de fé. Como apregoou Voltaire em O túmulo do Fanatismo, quase todos os que se colocam à frente de seitas, e podemos dizer, ditando regras e comportamentos, tem como objetivo dominar e enriquecer. A questão do lucro, no caso dos espíritas, vem escamoteada pelo discurso da caridade e do distanciamento das coisas materiais.

A transformação do Espiritismo em mais uma religião vem estimulando ações sem nenhuma noção de razoabilidade. Se uma das principais características da Doutrina é a fé raciocinada e consequentemente a capacidade de meditar e recusar as inverdades cunhadas pelo dogmatismo, essa essência foi perdida ao se aderir às superstições que de acordo com Voltaire, são contrárias à capacidade de racionalidade do homem.

         O que temos nas casas espíritas são manifestações de mitos e ritos sem nenhum fundamento, tal os utilizados pelas religiões no passado a fim de estabelecer dogmas e dominar os fiéis que uma vez manipulados, passavam a repetir esses mesmos ritos sem questionar o que era a fé.

Em torno da confusão que se instaurou, a falta de estudos sobre o significado do que seja o dogma, leva os espíritas a classificarem sua fé desordenada em fé raciocinada simplesmente por esse termo ter sido estabelecido por Allan Kardec em seus estudos.

A fé é um sentimento profundo, porém simples. Não se reveste de alegorias e nem necessita de representantes. É algo que vem da consciência, ela é perseverante e reflete sobre a veracidade de seu objeto de crença. Como bem dito por Kardec, “fé inabalável é a que encara a razão frente a frente em todas as épocas da Humanidade” e por isso é uma fé que transcende a banalidade e picuinhas dos seres.

A fé existe pela necessidade do homem em acreditar em alguma coisa que o sustente, principalmente em seus momentos de agonia. Ter fé é não duvidar, mas a fé ultrapassa os sentidos do passivo, mas quando o acreditar perde o crivo da razão e torna-se irracional, surge o fanatismo.

Sabemos que os espíritos influenciam em nossas vidas e conforme resposta dada a Kardec, muito mais do que pensamos e geralmente nos conduzem. Porém, atribuir aos espíritos todos os acontecimentos, seguramente é uma ação fanática. Ainda contamos com os que repudiam companheiros por eles não acreditarem que não se pode comer frango no último dia do ano, pois segundo a crença, a vida dará para trás no ano novo, pelo simples fato de que o frango cisca para trás...

A fé cega, fanática ocorre quando a ilusão se instala originária pela ignorância. Sem a mente predisposta ao conhecimento, a capacidade de pensar é anulada, sendo mesmo bloqueada.

As manifestações pavorosas de fé têm levado a desavenças entre os espíritas. De um lado, os que seguem religiosamente as convicções ritualísticas e de outro, os que discordam da panaceia instaurada em nome de Deus e que ainda leva o nome de espírita.

Os equívocos e absurdos se sucedem sob a justificativa da fé e como no passado, travestidos de soldados de cristo vemos confrades imporem seus pontos de vistas pessoais com o discurso que lutam por uma causa superior.

Fruto de um comportamento limitado, a fé cega é a principal originária da intolerância. Apesar dos espíritas falarem contra as intolerâncias, esquecem-se facilmente das orientações norteadoras ao bom senso a que o Espiritismo nos conclama  e tornam-se intolerantes quando suas idéias são questionadas à luz da razão. E neste contexto, fogem ao diálogo e tentam provar a qualquer preço a veracidade de seus argumentos, nem que seja com o uso da força física, da agressão verbal ou até mesmo fazendo uso da maledicência.



sábado, 16 de janeiro de 2016

Os vícios dos espíritas II



         No seguimento da insensatez levada a efeito pelos que se dizem espíritas, temos os “donos” dos centros. Esta figura, que tenta, mas não consegue ser modesta, que quer passar uma imagem de honestidade, mas se trai nas atitudes, além dos médiuns e palestrantes estrelas, é um dos grandes entraves ao bom andamento dos trabalhos.

         Mandam, desmandam, invertem a lucidez transformando-a em falta de senso e de praticidade, se sentem com capacidade para coordenar todas as atividades, tiram e colocam quem querem das reuniões, ajudam os que chegam com o intuito de dominar-lhes e deles obter favores pessoais, usam e abusam dos materiais da casa emprestando ou dando a seus pares, isso quando não são direcionados para a sua própria casa.

Justificam a utilização da casa espírita bem como de seus utensílios para uso pessoal, no fato de que foram eles os responsáveis pela edificação da casa, por sua manutenção, muitas vezes sozinhos durante certo tempo, e que foram os principais doadores dos objetos.

         Seguram com mãos de ferro as chaves da casa e são eles que a abrem e fecham e como absurdo pouco é bobagem quando viajam, caem doentes ou tem visitas em casa suspendem as reuniões. No quesito imitação com toda a certeza se espelham na clássica figura de São Pedro detentor das chaves das portas do céu.

         São pessoas controladoras que querem tudo para si e os que a elas não se unem são vistos com desconfiança e por vezes excluídos dos trabalhos da casa.

         As eleições para escolha dos membros dirigentes, não passam de uma farsa, visto que, o “dono” da casa, faz o seu lóbi cercando-se de todas as garantias para sua manutenção no poder. E como é comum nestes ambientes, não se formam chapas de oposição, visto que, os que poderiam assim agir, já foram sumariamente destruídos.

         Não respeitando quem age e pensa de modo diferente, impõem ao núcleo espírita um ritmo de trabalho baseado apenas em sua visão estereotipada do que seja o Espiritismo.

         Em tudo o que seja dito eles veem contrariedades ao seu ponto de vista, que é estritamente pessoal e em nada, nadinha se coaduna com a Doutrina Espírita.

         É interessante notar que os defensores dessa classe de dirigentes, dizem que eles são úteis, pois mantém a casa em funcionamento. Ou seja, não passam também de parasitas que não querem compromisso e logo, é mais cômodo apoiar o erro do que assumir o lugar e trabalhar pela melhora do ambiente.

         Os tais “donos” dos centros sentem-se experientes, alguns por carregar o peso da idade e chegam mesmo a dizer que não há ninguém com competência suficiente para substituí-los.

         Esquecem-se, todavia que idade não simboliza experiência e muito menos competência e que, portanto, não possuem a qualificação necessária para ocuparem cargos de liderança, pois lhes falta, além de outras habilidades a humildade e a capacidade de convivência com o diferente.

         Viciados mais nos fenômenos do que na própria doutrina; viciados pelo poder; viciados por mandar. Arvorados em missionários do bem, destroem os padrões doutrinários pelo orgulho e falta de vigilância que lhes são características.

         Sempre dispostos a anular os de boa vontade com o ácido da critica e não satisfeitos em espalhar seus petardos dentro da casa espírita, predispõem-se a difamar os que julga serem seus desafetos na comunidade ao redor do núcleo espírita. São incapazes de evitar os atritos, pois via de regra, são eles quem os promovem.

         Esses “donos” de centros espíritas desestimulam e levam muitas pessoas a desistirem do Espiritismo por julgar que seja mais uma seita de fanáticos e de chefões.

Não há neles a consciência de fraternidade ou mesmo de altruísmo cristão, agem por impulso, melindram-se por qualquer motivo impondo regras e obstáculos a todos que tentem articular alguma atividade que lhes fuja das mãos. Esquecem que a Casa Espírita não tem dono e mesmo que tenham fundado e doado objetos para sua composição, é uma instituição pública a serviço do Espiritismo.

Impondo ideologias caducas e extravagantes fazem o papel de desorientadores daqueles que chegam à procura de consolo. Casa Espírita em que não há o esclarecimento dentro dos postulados codificados por Kardec demarca sua falência. Os que enxergam os desregramentos precisam tomar providências contra o estado degradante confinado ao ambiente onde deveria reinar a harmonia, o conhecimento e o bem-estar.

A Casa Espírita, conforme relata André Luiz em Os Mensageiros capítulo 34, pertence a todos os cooperadores fiéis ao serviço cristão. Mas, ao analisarmos a situação atual pelo Brasil, chegamos à triste conclusão de que não há espíritas dentro dos centros espíritas e como disse sabiamente Herculano Pires, a mentalidade do evangelismo nas casas espíritas, e aqui acrescentamos também a sede pelo poder, levou a Doutrina a ser invadida por lobos em pele de ovelha, onde as palavras tolerância, fraternidade e paciência são apenas capas para as mazelas imagináveis e inimagináveis.

        

        
        

         

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Os vícios dos espíritas



Quando se fala em vícios, logo vem à mente processos ligados ao comportamento comum do homem, entretanto, neste espaço vamos abordar alguns vícios ligados ao trabalhador espírita.

Com um processo de dogmatismo e ritualismo impregnados até a alma, frutos de uma cultura religiosa católica inserida na Doutrina Espírita quando esta começou a desenvolver-se no Brasil, que em união às outras manifestações religiosas legou-nos um exacerbado misticismo.

A possibilidade de falar com os mortos e manter vivo o dogma dos santos e da salvação da alma encantaram os que aderiam ao Espiritismo e não tardou  o endeusamento de espíritos que traziam mensagens bonitas, escritas ou faladas, e que tocavam o mais modesto dos egos. Logo, a crença de que estes são espíritos enviados por Deus para guiar os homens na Terra tomou conta das mentes incautas que ainda nos dias atuais, se estonteiam de prazer ao ouvir o que chama de espírito guia, dizer-lhes que são os mais autênticos e melhores trabalhadores que a Doutrina já tivera. Tão sapientes que poderiam inclusive, reformar o Espiritismo com a mesma capacidade de Kardec.

A Doutrina Espírita não adota altares, mas os espíritas descobriram uma forma de erguê-los: as paredes dos centros encontram-se repletas de fotografias, são verdadeiros painéis votivos dispostos ao culto. 

Retratos de pessoas vivas ou não ao gosto dos que se predisponham à veneração: presidente da casa, amigos desencarnados, figuras católicas como João Paulo II, Madre Tereza de Calcutá e agora também Irmã Dulce, patrocinadores da casa, vultos do espiritismo: Bezerra de Menezes, Sheilla, Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Divaldo Franco, Francisco Cândido Xavier, André Luiz, Emmanuel, Allan Kardec. A lista é tão extensa quanto fervoroso é o culto, faltando apenas ajoelhar e benzer-se.

Outro vicio é atribuir até mesmo a um espirro, a presença de um obsessor. Ai de quem chegue a um centro, onde o dogmatismo domine com uma dor de barriga ou de cabeça, imediatamente é enviado à desobsessão... Aliás, para os espíritas apegados à obsessão, toda e qualquer pessoa, esteja ela rindo, contrita ou doente já indica que tem um obsessor ou obsessores.

A reunião de desobsessão que deveria servir para o equilíbrio, tanto de encarnados, quanto de desencarnados, tornou-se a catarse coletiva em que encarnados são sempre vitimas e desencarnados, os eternos algozes, banidos para cárceres nos submundos e até mesmo amarrados por entidades consideradas poderosas e que segundo os médiuns da casa, não voltarão a molestar sua vítima.

Médiuns se contorcem, grunhem, batem na mesa, jogam-se ao chão, rodam pela sala... Tudo sob o astuto olhar do dirigente que aplaude o espetáculo e reitera, em pleno século XXI, que ali se encontra os melhores médiuns da praça.

Não podemos esquecer nesse conjunto, o vicio do passe e da água fluidificada. Estas estão no mesmo patamar de beatitude das entidades, melhor dizendo, bentas. Consideradas sagradas, que curam qualquer mal, não se deve sair do centro sem antes ser ungido, digo, sem tomar o passe, sempre com as mãos espalmadas para cima e se o médium não soprar os ouvidos, alisar o paciente e estiver incorporado o passe não serviu, é considerado fraco e, portanto sem efeito.

 A água fluidificada virou um item comercial, em alguns centros ela é vendida e vem em garrafinha personalizada com o logotipo da casa em um sinal de que a venda de indulgências não ficou no passado.

Achando pouca toda esta paranoia, inauguramos a era dos tratamentos onde toda atividade da casa se volta para a mesma temática, nos quais médiuns tentam toscamente imitar Arigó.

 Os tratamentos recebem nomes diversos, mas todos tem a mesma linha de trabalho: fluidoterapia, passe espiritual, evagelhoterapia, cromoterapia, tratamento dos chakras e o que pode ser o mais interessante de todos, a cirurgia do perispírito, na qual, o perispírito é retirado do paciente para submeter-se ao tratamento cirúrgico e depois, fantasticamente recolocado de volta em seu dono.

Estes tratamentos são vips e altamente recomendados pelos médiuns e dirigentes que se encontram à frente destes trabalhos e tem ligação direta à desobsessão, o problema é que estes trabalhadores não percebem que eles deveriam ser os primeiros e principais pacientes de uma desobsessão.

A leitura do Evangelho, sem a interpretação e entendimentos necessários ao progresso do espírito praticamente não existe nas casas com estas características e não há recomendação deste aos frequentadores. Mas, as pomadas e receitas de chás e homeopatias são distribuídas sem constrangimentos para quem dá e para quem recebe que sai do centro com a mesma ostentação dos fiéis que no passado recebiam dos religiosos pedaços de roupas que diziam ser uma relíquia sagrada pertencente ao Cristo.

Como podemos classificar esse comportamento dos que se dizem espíritas se o Espiritismo não impõe regras, dogmas e não prega ritualismos?

Os mais afoitos dirão que isso é uma exteriorização das experiências de uma vida passada, porém, estamos hoje vivenciando a Doutrina Espírita e, portanto precisamos ter a hombridade de respeitá-la.  Em analogia a Fernando Pessoa, estudar é preciso tanto quanto navegar, e só o estudo para alertar sobre esse processo de supervalorização das sombras em detrimento dos valores espirituais positivos.

Espírita que não estuda não deveria considerar-se como tal, mas apenas como um mero aspirante, pois este comportamento vicioso demonstra contradição com os princípios do Espiritismo.  Nada tem de revolucionário este comportamento, assim como prega a Doutrina, pois apenas repete formulas do passado dando a elas o nome de espírita.

O engodo é levado a efeito com o intuito de endeusar médiuns e dirigentes que se utilizam do Espiritismo para aparecer socialmente e obter favores pessoais. Os caras de pau ainda alardeiam publicamente que tudo o que fazem é pelo bem das pessoas e pela divulgação do Espiritismo. Sem dúvidas, o Espiritismo não precisa de uma divulgação que o destrata, desvirtua e leva-o ao descrédito.

Somos todos aprendizes é certo, mas cruzar os braços aos estudos da codificação que nos leva a conhecer e entender a Doutrina e abarrotar as casas espíritas de invencionices e achismos numa mistureba religiosa fanática e ritualística é faltar ao compromisso com a causa espírita que deve e precisa ser divulgada de modo coerente e organizada.

Sem o equilíbrio necessário as conveniências pessoais aliadas à insensatez transformam a Doutrina Espírita em mais uma seita anárquica de alienados.

         No capítulo XVII, item Os bons espíritas de o Evangelho Segundo o Espiritismo, os espíritos advertem que há os que acreditam nas manifestações, mas não compreendem as consequências, nem o alcance moral ou mesmo que tenha a compreensão não aplicam a si mesmos, e isto não se atribui a uma falta de clareza da Doutrina, pois esta não contém alegorias e nem figuras que possam dar margem a falsas interpretações. 


Logo, devem-se esses fatos a entendimentos pessoais, como disse Kardec em Obras Póstumas, a ignorância das Leis leva o homem a procurar causas fantásticas para os fenômenos que não compreende e estas são as bases das superstições que são atribuídas aos fenômenos espíritas. 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O retorno ao mundo espiritual





De todas as certezas que podemos ter na vida, a morte é a mais certa delas. Inevitável... chega a qualquer hora e em qualquer lugar, atingindo, sem pedir licença homens, mulheres, crianças, idosos, seres vivos em geral, de qualquer idade, crença ou classe social.

O curioso, é que mesmo sabendo ser este o destino de tudo o que é vivo, fazemos de conta que ela não existe e que jamais irá nos atingir. Educamo-nos para a vida, mas não o fazemos para a morte, para sua aceitação quando chegar a nossa vez ou a do outro.

Os motivos que nos levam a cruzar o além são muitos e impostos pela forma como vivemos. Se negligentes ao atravessar uma rua, certamente seremos atropelados; se somos hipocondríacos, poderemos partir por uma intoxicação provocada pelo excesso de medicamentos; se alcoólatra, partiremos por doenças que acometerão o sistema biológico como a cirrose e assim por diante, sem esquecer a transposição pelo suicídio.

Chegaremos ao plano espiritual e seremos amparados de modo mais ágil ou não de acordo com nossas conquistas e nosso estado mental ditará o local onde habitaremos. Daí advém a necessidade da educação para a morte, que implica em mudanças de atitudes e comportamentos diante da vida.

Se morrer não é o fim, então porque morremos de medo de morrer? A pergunta é redundante, porém necessária, e a resposta óbvia, morrermos de medo de morrer porque não sabemos o que é a morte e porque não nos adestramos para morrer. E a assertiva é real inclusive para o meio espírita, que como justificativa para a falta de educação para a morte, dizem que não sabem o que encontrarão do outro lado...

Muitos morrem, poucos desencarnam, pois morrer é ter as sensações vitais paralisadas, mas ter o espírito em agonia pelo passamento. Desencarnar é agradecer pelo corpo que serviu de abrigo ao espírito em sua trajetória evolutiva e seguir sem apego àquilo que já não tem mais funções a desempenhar. É partir livre na certeza de que a vida permanece ativa.

O historiador Philippe Ariès, pesquisou durante muito tempo o comportamento do homem diante da morte e mostra que a forma como a encaramos é algo novo. As mudanças, do período medieval ao atual foram lentas e muitas vezes não percebidas.

Na Idade Média, a morte era um evento público que ao ser pressentida fazia com que as pessoas se recolhessem com seus amigos e parentes para dar cumprimento ao ritual de pedir perdão pelas faltas e transcrever o testamento onde era expresso todos os desejos inclusive o de salvação da alma, descrevendo a forma como gostaria que fosse o velório e o sepultamento bem como declarando os valores que seriam empregados para o pagamento das missas em favor da própria alma e de outros que fossem lembrados.

A prática era enterrar em local considerado sagrado, como nas igrejas para os que podiam pagar ou próximo a ela para os indigentes. Mortos e vivos conviviam pacificamente até que os valores começaram a mudar e o hábito de se fazer festas e feiras nos adros das igrejas desapareceu por ter se tornado um incomodo conviver com os falecidos.

         Na Idade Moderna europeia mantiveram-se os mesmos costumes, porém a visão sobre a morte mudou e esta passou a ser vista como algo que tirava um ente querido. Era uma transgressão aos sentimentos, a morte de si mesmo deixa de ser temida e passa-se a recear a morte do outro.

Para evitar o contágio com os miasmas pestilentos da morte, surgiram os cemitérios e a família passou a ser o foco das atenções com a adoção do luto eterno como demonstração de respeito e de profundo sentimento pela “perda”.

Por temer a falta do outro e a fim de evitar sofrimentos, no período Contemporâneo o estado de saúde do moribundo passou a ser escondido deste, ele não devia saber que estava prestes a cruzar a fronteira com o além, porém a intenção era varrer a morte da sociedade.

A partir da década de 30 do século XX, não mais se morre em casa e cercado de amigos e parentes, mas em hospitais e de forma solitária. Para Norbert Elias, esta forma de morrer é reflexo da forma como se vive nas sociedades modernas, solitariamente.  

Os avanços da ciência médica passaram a permitir o prolongamento ou não da vida, o luto também perdeu o sentido e o pensamento de que morte chegará sempre para o outro, como dito anteriormente, permanece vivo bem como o sentimento de que somos os únicos a sofrer quando chega a termo a vida física de um ente querido.

Nesse percurso histórico, a morte foi encarada como a ida para o nada e no mesmo período surge o Espiritismo colocando por terra os dogmas explicando que para salvar-se é preciso praticar a caridade, pois, fora desta não há salvação, o que significa, de acordo com o Espírito da Verdade, na questão 886 de O Livro dos Espíritos: benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.

O Espiritismo esclarece os meandros temidos da morte, mostrando-a como um processo natural na vida do espírito em seu processo evolutivo. Deixa claro que apenas o corpo vira pó e que o espírito vai encarar a jornada em um novo plano.

         Muitas vezes já morremos e ainda tememos o passar para o outro mundo, um medo justificado apenas pela falta de estudo e de conhecimentos sobre o assunto, visto que educar-se para a morte faz parte do processo de transformação moral do indivíduo.

Se o Espiritismo esclarece os temores da morte e tem os mecanismos adequados que promovam uma educação neste sentido, porque o espírita ainda treme diante de sua “aparição”? Medo do fantasma de preto segurando uma foice, temor de que o mito da finitude seja verdadeiro ou medo de descobrir a sua verdadeira essência enquanto espírito?

Em 1959, Chico Xavier fazia uma viagem, de avião, que enfrentou uma grande turbulência. Em meio ao pânico geral, Chico também começou a gritar e todos já esperavam não sair vivos. Emmanuel o repreende dizendo que a cena demonstrava falta de fé na imortalidade da alma.

De acordo com Kardec em O Céu e o Inferno, o temor da morte parte do instinto de conservação do homem, necessário enquanto não temos esclarecimentos sobre a vida após a morte e também para impedir que sejamos negligentes com a vida corporal e, à medida que tenhamos uma melhor compreensão sobre o seu sistema, o medo desaparecerá.

Porém, apesar dos esclarecimentos, a morte permanece envolta em mistérios e crenças como o virar santo. As frases direcionadas para os que partem como “olhe por nós daí de cima”, são claras demonstrações de que ainda não sabemos o que é a morte e qual deve ser o nosso procedimento diante do fato, mas também revela a ignorância sobre as condições do espírito.

           A morte não é uma novidade na vida do homem, ao contrário, é um processo natural, tanto quanto nascer. Porém nos escusarmos a entender e até mesmo a falar sobre a morte e segundo Kardec, este comportamento não nos permite penetrar o pensamento no mundo espiritual e por isso temos dele uma visão distorcida que impõe o medo e a falta de informações não deixa que percebamos as condições espirituais de quem parte, pois por melhor que tenha sido quando encarnado, poderá não seguir em paz e, portanto não estar em condições de olhar por nós.

Cada um encontra-se em um degrau na escala evolutiva carregando o fardo das próprias ações que determinará a realidade da vida no mundo espiritual. Lembrando que a mente culpada projetará sofrimentos e se afinará com outros que estiverem no mesmo patamar energético; a mente em paz consigo mesma e certa de que viveu procurando fazer o bem e em consonância com as Leis Divinas, granjeará benesses. Portanto, este não teme a morte e nem procura justificativas vãs mesmo porque, sabe bem o que é o mundo espiritual e o que lhe aguarda ao cruzar o véu.

O espírito André Luiz nos diz que a maior surpresa da morte é nos confrontarmos com a nossa consciência, pois é a partir dela que construímos o céu, paramos no purgatório ou nos precipitamos aos planos inferiores.

 Conforme colocou Herculano Pires, a educação para a morte começa no exato momento em que tomamos conhecimento dessa realidade e despertamos para uma noção profunda que nos leva a compreender as implicações e proporções da morte, a perceber a imortalidade como uma benção e uma oportunidade de reencontrarmos os que amamos e dar continuidade à vida com maiores possibilidades de acerto, com liberdade e com a consciência de que somos Espíritos.

Referências:

ARIÈS, Phillippe. História da morte no Ocidente. Da Idade Média aos nossos dias. Trad. Priscila V. de Siqueira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
ELIAS, Norbert. A solidão dos moribundos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2001.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Trad. Albertina Escudeiro Sêco. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CELD, 2008.
 XAVIER, Francisco Cândido e LUIZ, André (espírito). Nosso Lar. Brasília: FEB, 2014.