Proliferam
os grandes eventos nas casas espíritas de todo o Brasil. São semanas espíritas,
seminários, jornadas e outros que levam nomes de obras espíritas ou de grandes
vultos como Allan Kardec e Chico Xavier. Até ai tudo perfeito, pois esta é uma
das melhores formas de divulgar, para um grande público, o conhecimento legado
pelo Espiritismo.
Este modismo, em alguns lugares, tornou-se inclusive
evento social, já esperado todos os anos, pelo esfuziante espetáculo que
promovem com a presença de músicos, de palestrantes famosos, da mídia local,
sorteios de livros isso para não falar nas recepções regadas a comes e bebes para
receber o célebre orador.
Antes mesmo do evento, o ilustre já é entusiasticamente
esperado devido ao grande alarde feito, nas casas espíritas promotoras do
evento, através de propagandas reiteradamente jogada nas mentes dos que
frequentam as reuniões, com power points automaticamente repetidos, folders com fotos e o imenso currículo do indivíduo,
que na grande maioria das vezes, de experiência e conhecimento espírita mesmo,
não tem nada o que fica claramente demonstrado, quando, na hora “h”, o “enrolation” fica patente: cantam (não
que tenha nada contra a música, há palestras espíritas cantadas que são muito
boas, outras, nem por isso...), leem slides, dão foras históricos homéricos,
põem o ego em evidência o tempo todo expondo suas vastas qualidades, fazem
megas apresentações que não se vê nem mesmo em palestras motivacionais – abrem
os braços, pulam, rodam, apontam o dedo, contam piadas - entre outras
manifestações exacerbadas aplaudidos com paixão pelo público incauto e iludido
pelos títulos apresentados. Isso para não esquecer os que estão interessados
apenas em enfiar nesse mesmo público desprevenido seus CDs e livros, muitos de
conteúdos questionáveis.
Porque nos grandes eventos das casas espíritas os
palestrantes locais ou da região circunvizinha não são convidados para
apresentar um exórdio? Será que há um separatismo institucionalizado pelos
dirigentes que colocam do lado esquerdo “os de dentro” que só estão aptos para
as palestras do dia-a-dia e “os de fora” que notadamente famosos merecem o
destaque na ilustre noite da casa espírita?
Pelo nível de muitos palestrantes “de fora”, como se diz
popularmente estamos sendo trolados... Mas ao que parece há uma cegueira geral
dos dirigentes que não percebem ou não querem perceber a falta de qualidade de
certos indivíduos que tem suas passagens e hospedagens devidamente pagas com o
dinheiro daqueles a quem enrolam. Ou então é porque julgam que só haverá casa
cheia se o palestrante for alguma celebridade. E neste ponto encontramos a
grande falha das casas espíritas, pois se até mesmo os frequentadores
corriqueiros, só aparecerão se houver espetáculo, é porque não estão cumprindo
devidamente com seu trabalho de esclarecimento, nas reuniões públicas ou de
estudos, sobre o que é o Espiritismo. E mais, casa cheia de encarnados leva por
água abaixo o clássico discurso de que creem que o Cristo estará presente mesmo
que só tenham dois ou três na assistência.
Que
há muita gente boa, isso não se coloca em dúvida, mas há também pseudos
palestrantes espíritas vestindo pele de cordeiro. Afinal, será que julgam que o
palestrante local não tem capacidade para apresentar um tema em um grande
evento? Se põem em dúvidas a capacidade dos companheiros que estão na luta
diária a resolução é simples: capacitação, curso de oradores, curso de didática
coisa que muitos famosos de fora parecem que nunca viram.
Vamos acabar com essa história de que santo de casa não
faz milagre, está mais do que na hora de fazer uma triagem entre os oradores
que subirão ao púlpito espírita. Mentes brilhantes, com conhecimento espírita e
em outras áreas e com grande poder de oratória estão em nosso convívio.
Aprendamos rapidamente a perceber que há palestrantes que de Espiritismo mesmo
só conhecem o nome... Confundem “alhos
com bugalhos”, apresentam o tema sob o prisma de seu parco entendimento e o
Espiritismo vira apresentação circense.
Ao que tudo indica, os dirigentes espíritas estão se
deixando levar pelos aplausos da massa que também não conhece Espiritismo, mas
que vê naquele espetáculo a face oculta de Deus... Onde estão os trabalhadores
da casa, que percebem o mal caratismo de certos oradores? Estão se melindrando por
quê? Porque são coagidos ou porque caem no conto piegas de que será falta de
caridade apontar a falha do outro? Falta de caridade é deixar que shows deprimentes
disfarçados de palestras, sejam vistos pelos neófitos como Espiritismo; falta
de caridade é levar o nome de Kardec à lama pela falta de pudor dos que nada
constroem em termos de Doutrina e de vida.
Tenhamos em mente que não é fama, nem vínculo a algum
núcleo espírita e nem tampouco currículo extenso que dá conhecimento a alguém e
que palestra espírita não tem que se transformar em espetáculo para inglês ver.
A palestra espírita, do dia-a-dia ou de grandes eventos, não é uma mera
oratória, é uma aula, precisa e deve ser contextualizada, bem elaborada, pedagógica
quer tenha cunho científico, moral, filosófico ou mesmo misto. É uma mensagem
que precisa e deve ser levada com seriedade e simplicidade para que o público
possa ter um bom entendimento. De nada adianta encher os olhos e os egos de
pompa e ostentação e deixar a alma carente do conhecimento verdadeiro que leva
à libertação. Herculano Pires dizia que as pessoas esperam que a casa espírita
seja um templo com pregações religiosistas e de adoração e agora podemos também
acrescentar que se esperam majestosos espetáculos em que sobressaem o glamour e a falta de objetividade.