quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Espiritismo: o futuro das religiões


As religiões em si pregam a existência de uma incompatibilidade com o Espiritismo. Para elas, não há possibilidade de se proferir uma fé e acreditar na existência de espíritos, na reencarnação ou mesmo na imortalidade da alma. Expressam que duas concepções não podem ocupar o mesmo lugar na mente do fiel, e nas alegações promovem o Espiritismo a um sistema anticristão.
Seria realmente impossível professar duas concepções caso fosse, o Espiritismo, uma religião institucionalizada, com ritos e dogmas, um cortejo de hierarquias e cerimônias conforme explica Kardec em artigo da Revista Espírita (1868, p. 491).
O Espiritismo é uma doutrina de tríplice aspecto: ciência experimental, doutrina filosófica e moral. Como ciência não se ocupa de dogmas e como filosofia possui consequências morais e não religiosas. Proclama a liberdade de consciência como um direito natural, combate a fé cega que leva o homem a perder o crivo da razão e do bom senso e não impõe a quem quer que seja que para acreditar em seus princípios tenha que se despir de suas crenças. Para Kardec, a comunhão de pensamentos, em torno de crenças, seria fundamental para legar à humanidade ações e efeitos evolutivos, a partir da harmonia e da emanação de fluidos benéficos por ser a Doutrina Espírita universalista e por isso mesmo congregar todos os sentimentos religiosos.
Kardec (2008, p. 298),alerta para a implantação da fraternidade e diz que esta é a base para uma nova ordem, tendo como pilar a fé inabalável, não focada em dogmas, mas em princípios relevantes: Deus, alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres quando os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos. De acordo com o entendimento, percebe-se que a incompatibilidade professada entre os credos parte essencialmente da ignorância dos homens sobre a natureza de Deus, que os leva a reduzir a existência a uma luta entre deuses de diversas religiões. Quando, portanto houver o entendimento de que os rótulos são puramente fantasia para a perpetuação do maniqueísmo, haverá a compreensão de que temos um único Pai e um único Mestre.
Léon Denis, no cap. XI de No Invisível (2008), ao ratificar a universalidade da Doutrina Espírita, esclarece que aos poucos as religiões irão congregar os conceitos fundamentais do Espiritismo e ficarão tão semelhantes que não haverá como diferenciá-las umas das outras, pouco importando qual se seguirá, pois haverá uma relação equilibrada entre elas, em seus conceitos de vida e espiritualidade e a união de pensamentos e ações pelo bem universal será uma realidade incontestável, conforme pensava Kardec.
A união de pensamentos e a fraternidade, base para a fé inabalável, começa a se tornar fato real. No dia 24 de abril de 2016, o companheiro do Observatório de Pedagogia Espírita, Orlando Moura, ordenou-se diácono da Igreja Católica Livre, uma variante da Igreja Romana, porém sem laços com esta última, ainda arraigada a ritos e dogmas, mas livre da imposição do celibato, do uso da cruz e das imagens e comungando dos princípios da Doutrina Espírita.
Essa ordenação foi um marco para o movimento espírita da cidade de Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo baiano, visto que a cerimônia foi realizada em uma casa espírita, pelo bispo e demais representantes da Igreja Livre e com a presença de espíritas, católicos, evangélicos e adeptos da Igreja Messiânica. Eis o Espiritismo como o futuro das religiões.

REFERÊNCIAS

DENIS, Léon. No invisível (1911). Disponível em: http://bit.ly/noinvisivel-leondenis. Acesso abril 2016. pp. 92-98
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 2. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2010.
KARDEC, Allan. A Gênese. Rio de Janeiro: CELD, 2008.
KARDEC, Allan. Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. 11º ano, 1868, p. 491.