quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Movimento espírita e sensacionalismo




O sensacionalismo e as notícias falsas fazem mais do sucesso do que as boas e sérias. A audiência de sites e blogs, que alardeiam a mentira sobre o manto da verdade é um espanto e os incautos de plantão repassam e curtem nas redes sociais sem o mínimo critério de avaliação. De situações banais como a publicação da morte de famosos a outras que manipulam eleitores e levam inescrupulosos ao poder, o fake news está em todo lugar e o movimento espírita não se encontra isento. Das fraudes mediúnicas às comunicações criadas pelas celebridades instantâneas disfarçadas em mensagens de paz e amor oriundas supostamente de espíritos, vemos o disseminar de mentiras que ainda são defendidas, dentro do movimento, por uma massa de “espíritas” acéfalos que jamais em suas vidas procuraram conhecer a realidade por trás das falácias. Muitos dos que defendem as ilusões nunca leram Kardec e das obras básicas só conhecem as compilações e comparações mal feitas pelos diversos aproveitadores que se dizem escritores.
Desta forma foi que o Espiritismo se difundiu no Brasil, não só graças aos que se dizem espertos e usaram suas astúcias para entortar e mistificar como graças aos bajuladores e ociosos de plantão que julgam que tudo o que se diga oriundo do mundo espiritual seja verdadeiro e divino.
Mensagens encharcadas por um religiosismo melodramático que transformam espíritos desencarnados em sábios e em santos e que de uma hora para outra também passam a profetizar sobre o futuro das pessoas e do mundo... A situação é deveras preocupante, e ainda há quem acredite em melhoria do planeta...
Mas em um país, onde o que vende é o sensacionalismo aliado ao embuste religioso, não demorou muito para que instituições que deveriam zelar pelo bom nome do Espiritismo, editoras e autores na ânsia do dinheiro fácil e de encher os centros de frequentadores, transformassem a Doutrina, que é uma Ciência e uma Filosofia de consequências morais em mais uma religião, sem se importar se mentem ou distorcem o Espiritismo. Não foi difícil convencer o povo, usando o manto da fé. Foi deveras fácil colocar na cabeça dos desavisados histórias surreais sobre o nosso destino de salvadores da Terra, onde se insere o assunto sobre a regeneração do planeta. Outra história bastante difundida é a das “crianças índigo”, onde ressaltam que nos últimos 20 anos estão encarnando, no plano terrestre, espíritos altamente inteligentes preparados para ajudar os atrasados e o próprio planeta no processo de transição.
Ora bem, em fixando o olhar neste momento, para a transição, percebemos ser esta uma história na qual o que se leva em consideração é o achismo de quem fala que apela ao mito que sobrevive no imaginário dos crentes, tal qual na Europa dos séculos XIV e XV onde a ideia de monstros marinhos assombravam as populações. Desta forma, surgem imagens icônicas de grandes tsunamis e terremotos ceifando vidas, principalmente dos espíritos ainda renitentes ao mal e do outro lado, a ideia bíblica de uma Terra onde prepondera a paz e o reino de Deus para os escolhidos. Assim, a ideia de que o planeta Terra se autodestruirá e surgirá linda e fagueira uma terra de maná, leite e mel se fortalece e nos convencemos de que nada precisamos fazer, a não ser manter uma capa de bonzinho orando a Deus insistentemente pela nossa proteção e salvação.
O planeta Terra não é uma matéria estável.  Existem vulcões, falhas tectônicas e essas placas estão em constante movimento que provocam terremotos e maremotos. Fenômenos naturais que sempre existiram e que para saber sobre eles, basta o uso da razão, tão apregoada por Allan Kardec e uma incursão séria pela história da humanidade: em 1755 Lisboa foi devastada por um grande terremoto seguido de tsunami; no ano de 1138 um grande tremor de Terra abalou as estruturas da cidade de Aleppo, na Síria; em 1920 foi a vez de a terra tremer de modo avassalador na China, fato que ficou conhecido como O Terremoto de Gansu; na primavera do ano 526 um terremoto de grandes proporções atingiu a Antioquia e a Síria.
Mas, seguindo a trilha das distorções, trabalha-se no Brasil com a ilusão da pátria do evangelho, do país tropical abençoado por Deus... De um país sem catástrofes... Será? E as grandes chuvas e enchentes que derrubam morros e varre do cenário terrestre cidades e pessoas? Ou será que enchentes e deslizamentos de terra não são catástrofes? E nisto claramente a falta de senso, ora, se somos uma terra tão abençoada, porque o alarmismo? O estudo equilibrado faz falta, porque em sua ausência reina a ignorância.
         Kardec em A Gênese esclarece, a transição é moral e como hoje a moda é cultivar atitudes esdrúxulas como se fossem nobilitantes, creio estarmos bem longe de uma melhoria, já que esperamos que o mundo se torne bom sem que façamos esforços pessoais para isso. E se atentarmos para a história, perceberemos que a ideia de um mundo melhor e de uma nação com destino missionário não é um fenômeno novo como muitos querem enfatizar, basta voltarmos os olhos, por exemplo, para a história de Israel.



Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra... E vai para a terra que mostrarei; de ti farei uma grande nação... Abençoarei os que abençoaram, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gênesis, 12, 1-3).

O Senhor teu Deus te escolheu, para que fosses o seu povo próprio, de todo os povos que há sobre a terra. (Deuteronômio, 7 -6).

Algumas histórias chegam a ser engraçadas à primeira vista, mas ao observarmos atentamente, percebemos que são frutos da crença vazia, logo, filha da ignorância, como é o caso ocorrido na Inglaterra em 1806, na cidade de Ledds, onde foi proclamado o retorno do Cristo à Terra através de uma galinha... Conta-se que a galinha começou a pôr ovos onde aparecia a frase “Cristo está chegando” e logo, a população estava crente de que o fim do mundo estaria próximo... Como relata um jornalista da época, as pessoas logo se tornaram religiosas e passaram a rezar de modo fervoroso e constante, dizendo-se arrependidas de seus pecados.

Mas então há os que questionarão estas meras palavras, mas espero que questionem de forma inteligente e não com as mesmas baboseiras, de cunho fanático religioso, tão comum aos igrejeiros de plantão no movimento espírita no qual se misturam mensagens de supostos espíritos ou de seres planetários gabando-se de serem os profetas do apocalipse, ou melhor, da transição planetária. 

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